sábado, 16 de maio de 2015

Cátedra Michel Foucault e a Filosofia do Presente

São Paulo, 12 de maio de 2015


Prezado(a) Senhor(a),

Nós, componentes do Grupo de Pesquisas Michel Foucault (PUC-SP/CNPq), composto por estudantes de graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado em filosofia da PUC-SP e por pesquisadores e professores desta e de outras intuições, vimos por meio do presente documento levar a conhecimento público o veto do Conselho Superior da Fundação São Paulo, mantenedora da PUC/SP, à constituição da Cátedra "Michel Foucault e a filosofia do presente".
Por meio do histórico exposto a seguir, buscamos dar ciência sobre os acontecimentos que envolvem a decisão tomada por este Conselho, composto pelo cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, sete bispos e a reitora, Profª Drª Anna Maria Marques Cintra. Destacamos que o ato do referido Conselho não consiste somente num veto à constituição de uma Cátedra, mas numa violência à autonomia universitária. Deste modo, contamos com seu apoio para a divulgação do ocorrido, além da sua manifestação de repúdio a esta ação.
O trabalho para instauração da Cátedra “Michel Foucault e a filosofia do presente” teve início em 2011, quando a PUC-SP sediou o VII Colóquio Internacional Michel Foucault, organizado pelo Grupo de Pesquisas Michel Foucault. Na ocasião, professores representantes da École Normale Supérieure de Paris, da Universidade de Lisboa, da Universidad Complutense de Madrid, do Collège International de Philosophie, da Université de Bordeaux, da Université Paris VIII, da Universidad de Los Andes, da Universidad de Valparaiso e da Universidad San Martin assinaram um documento solicitando que a PUC-SP sediasse a Cátedra “Michel Foucault e a filosofia do presente”, uma instância para proposição, realização e internacionalização de estudos sobre o pensamento do filósofo francês, bem como sobre pensadores cuja reflexão é consonante com suas pesquisas.Este trabalho contou, desde o início, com o apoio do Consulado Geral da França em São Paulo, que, em vista da expectativa de instauração da referida Cátedra, intermediou o recebimento dos áudios dos cursos proferidos por Michel Foucault no Collège de France de 1974 a 1984, hoje disponíveis para consulta na biblioteca da PUC-SP, único lugar fora da França a abrigar este acervo.

O processo de criação da cátedra seguiu todas as instâncias protocolares dentro da PUC-SP e tramitou no Conselho de Ensino e Pesquisa e no Conselho Universitário (CONSUN), tendo sido aprovado por unanimidade e com louvor.
Diante do exposto, externamos publicamente nossa perplexidade ao receber, em dezembro/2014, a informação de que a criação da Cátedra “Michel Foucault e a filosofia do presente” havia sido recusada pelo Conselho Superior da Fundação São Paulo. Na ocasião, a reitora da PUC-SP, Profª Drª Anna Maria Marques Cintra, solicitou “baixar em diligência” o assunto para nova apreciação na reunião seguinte do referido Conselho.
Em janeiro de 2015, os professores coordenadores do Grupo de Pesquisa Michel Foucault recorreram a várias instâncias para reverter a recusa. Foi redigido, então, um pedido de revisão na tentativa de argumentar sobre a importância da criação da Cátedra “Michel Foucault e a filosofia do presente”. Este texto foi entregue à reitora, mas o assunto não chegou a ser apreciado na nova reunião do Conselho Superior da Fundação São Paulo.
Em nova tentativa de negociação, os professores solicitaram uma audiência com o Cardeal e, novamente, a instalação da Cátedra foi recusada. Um “Pedido de revisão” foi, então, encaminhado formalmente e protocolado na Fundação São Paulo. No entanto, em 13/04/2015, data da reunião do Conselho Superior, foi decidido por votação não rediscutir o assunto.
Os professores coordenadores do Grupo relataram o assunto ao Conselho Universitário (CONSUN), em reunião de 29/04/15, ocasião em que se decidiu elaborar moção dirigida ao Conselho Superior da Fundação São Paulo solicitando que a decisão de recusa da Cátedra seja reconsiderada. Esta moção foi endossada também pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) e pelo Conselho da Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes.
Isto posto, e considerando que a atitude do Conselho Superior da Fundação São Paulo de recusa ao pedido de criação da Cátedra "Michel Foucault e a filosofia do presente" agride a autonomia científica de que gozam as universidades públicas e privadas em nosso país (art. 207, Constituição Federal); considerando também que, embora a PUC/SP seja uma instituição de ensino privado, deve atender às normas gerais de educação nacional (art. 209, I, Constituição Federal), no que se destaca o respeito aos princípios constitucionais que regem a educação em nosso país, em particular, neste caso, o da autonomia universitária; considerando ainda que a finalidade da constituição de uma Cátedra não é a homenagem a determinado pensador ou pensadora, mas tem escopo eminentemente acadêmico, estimulando pesquisas de excelência para o aprofundamento do pensamento e do conhecimento, além da internacionalização e profusão de estudos em torno do pensamento de Michel Foucault, notavelmente um dos mais relevantes pensadores do século passado, reiteramos o pedido de: a) divulgação destes acontecimentos e b) a manifestação de repúdio a esta atitude do Conselho Superior da Fundação São Paulo.
O Grupo de Pesquisa Michel Foucault da PUC-SP, conta com seu apoio e se dispõe a prestar mais esclarecimentos que se façam necessários.

Grupo de Pesquisa Michel Foucault
(PUC-SP/CNPq)






Petição Pública em defesa da Cátedra Michel Foucault e a Filosofia do Presente: assine aqui




Saiba mais: 



sábado, 5 de outubro de 2013

Commune de Paris

Esse é apenas um pequeno excerto da Comuna de Paris que pela sua grande atualidade fiz uma tentativa de tradução. Segue o texto original e um breve rascunho de tradução em seguida.

Ivan de Sampaio.



Comité Central de la Garde Nationale
Commune de Paris, le 25 mars 1871.

Appel aux électeurs parisiens

Citoyens,
Ne perdez pas de vue que les hommes qui vous serviront le mieux sont ceux que vous choisirez parmi vous, vivant votre vie, souffrant des mêmes maux.
Défiez-vous autant des ambitieux que des parvenus ; les uns comme les autres ne consultent que leur propre intérêt et finissent toujours par se considérer comme indispensables.
Défiez-vous également des parleurs, incapables de passer à l’action ; ils sacrifieront tout à un beau discours, à un effet oratoire ou à un mot spirituel. Évitez également ceux que la fortune a trop favorisés, car trop rarement celui qui possède la fortune est disposé à regarder le travailleur comme un frère.
Enfin, cherchez des hommes aux convictions sincères, des hommes du peuple, résolus, actifs, ayant un sens droit et une honnêteté reconnue. Portez vos préférences sur ceux qui ne brigueront pas vos suffrages ; le véritable mérite est modeste, et c’est aux électeurs à choisir leurs hommes, et non à ceux ci de se présenter.

Citoyens,
         Nous sommes convaincus qui si vous tenez compte de ces observations, vous aurez enfin inauguré la véritable représentation populaire, vous aurez trouvé des mandataires qui ne se considéreront jamais comme vos maîtres.

Tradução: 

Comitê Central da Guarda Nacional
Comuna de Paris, 25 de março de 1871

Apelo aos Eleitores Parisienses

Cidadãos,
Não percam de vista que os homens que lhes servirão melhor são aqueles que escolherem dentre vós, vivendo vossa própria vida, sofrendo dos mesmos males.
Previnam-se tanto dos ambiciosos quanto dos inexperientes; tanto uns quanto os outros se preocupam apenas com os próprios interesses e terminam sempre por se considerar indispensáveis.
Previnam-se igualmente dos retóricos, incapazes de passar à ação; eles sacrificarão tudo por um bom discurso, por um recurso retórico, ou por uma palavra espirituosa. Evitem igualmente àqueles cuja fortuna favorizou demais, porque muito raramente esse que possui a fortuna está disposto a olhar o trabalhador como irmão.
Por fim, procurem os homens de convicção sincera, os homens do povo, resolutos, ativos, detentores de uma acepção direita e uma honestidade reconhecida. Depositem suas preferências naqueles que não disputam pelo vosso voto; o verdadeiro mérito é modesto, cabe aos eleitores escolherem seus homens e não a estes se apresentarem.

Cidadãos,
      Nós estamos convencidos de que se levarem em conta essas observações, vocês terão por fim inaugurado a verdadeira representação popular, vocês terão encontrado os mandatários que não se considerarão jamais vossos mestres.