Ontem (21 de novembro de 2011) li um
artigo deplorável do Professor Luiz Felipe Ponde, “O erro de Foucault”. Nesse artigo, Ponde demonstra toda sua ignorância
a respeito da obra e do pensamento de Michel Foucault e tenta ainda se utilizar
de seus preconceitos baratos contra o filósofo francês para denegrir o
movimento estudantil da USP.
Pensei ontem em escrever uma resposta
a esse artigo. Mas, depois de conversar com alguns amigos, percebi que não
valeria o esforço. Fato é que Ponde hoje não passa de um polemista e qualquer
resposta a ele apenas abriria um flanco para insultos. Felizmente, hoje, ao ler
novamente a Folha de São Paulo, me deparei com um artigo do Prof. Vladimir
Safatle, “Sem resposta”. Trata-se de
uma excelente resposta para Ponde, sem citá-lo uma única vez. (Há quem diga que
foi, em verdade, uma resposta ao Reinaldo Azevedo. É possível, mas como o
Reinaldo Azevedo republicou o texto do Ponde, tanto faz).
Recomendo a leitura de ambos os
artigos. De minha parte, não escrevi e não escreverei nenhuma resposta ao
artigo do Ponde. Farei diferente. Deixarei a resposta a cargo do próprio
ofendido. Sendo assim, publico aqui um artigo de Michel Foucault que foi o
prefácio da edição americana do livro Anti-Édipo do Deleuze e Guattari. Um
amigo publicou esse texto recentemente em seu blog (Pedra no Curral) e acredito que não haja momento mais apropriado
para trazê-lo de volta a tona. Recomendo a todos que não sigam o exemplo do
Ponde e leiam o autor antes de fazer julgamentos.
Durante os anos 1945-1965 (falo da
Europa), existia uma certa forma correta de pensar, um certo estilo de discurso
político, uma certa ética do intelectual. Era preciso ser unha e carne com
Marx, não deixar seus sonhos vagabundearem muito longe de Freud e tratar os
sistemas de signos - e significantes - com o maior respeito. Tais eram as três
condições que tornavam aceitável essa singular ocupação que era a de escrever e
de enunciar uma parte da verdade sobre si mesmo e sobre sua época.
Depois, vieram cinco anos breves,
apaixonados, cinco anos de júbilo e de enigma. Às portas de nosso mundo, o
Vietnã, o primeiro golpe em direção aos poderes constituídos. Mas aqui, no
interior de nossos muros, o que exatamente se passa? Um amálgama de política
revolucionária e anti-repressiva? Uma guerra levada por dois frontes - a
exploração social e a repressão psíquica? Uma escalada da libido modulada pelo
conflito de classes? É possível. De todo modo, é por esta interpretação
familiar e dualista que se pretendeu explicar os acontecimentos destes anos. O
sonho que, entre a Primeira Guerra Mundial e o acontecimento do fascismo, teve
sob seus encantos as frações mais utopistas da Europa - a Alemanha de Wilhem
Reich e a França dos surrealistas - retornou para abraçar a realidade mesma:
Marx e Freud esclarecidos pela mesma incandescência.
Mas é isso mesmo o que se passou?
Era uma retomada do projeto utópico dos anos trinta, desta vez, na escala da
prática social? Ou, pelo contrário, houve um movimento para lutas políticas que
não se conformavam mais ao modelo prescrito pela tradição marxista? Para uma
experiência e uma tecnologia do desejo que não eram mais freudianas?
Brandiram-se os velhos estandartes, mas o combate se deslocou e ganhou novas
zonas.
O Anti-Édipo mostra, pra começar, a
extensão do terreno ocupado. Porém, ele faz muito mais. Ele não se dissipa na
difamação dos velhos ídolos, mesmo se divertindo muito com Freud. E, sobretudo,
nos incita a ir mais longe.
Seria um erro ler o Anti-Édipo como
a nova referência teórica (vocês sabem, essa famosa teoria que se nos costuma
anunciar: essa que vai englobar tudo, essa que é absolutamente totalizante e
tranquilizadora, essa, nos afirmam, “que tanto precisamos” nesta época de
dispersão e de especialização, onde a “esperança” desapareceu). Não é preciso
buscar uma “filosofia” nesta extraordinária profusão de novas noções e de
conceitos-surpresa. O Anti-Édipo não é um Hegel pomposo. Penso que a melhor
maneira de ler o Anti-Édipo é abordá-lo como uma “arte”, no sentido em que se
fala de “arte erótica”, por exemplo. Apoiando-se sobre noções aparentemente
abstratas de multiplicidades, de fluxo, de dispositivos e de acoplamentos, a
análise da relação do desejo com a realidade e com a “máquina” capitalista
contribui para responder a questões concretas. Questões que surgem menos do
porque das coisas do que de seu como. Como introduzir o desejo no pensamento,
no discurso, na ação? Como o desejo pode e deve desdobrar suas forças na esfera
do político e se intensificar no processo de reversão da ordem estabelecida? Ars
erotica, ars theoretica, ars politica.
Daí os três adversários aos quais o
Anti-Édipo se encontra confrontado. Três adversários que não têm a mesma força,
que representam graus diversos de ameaça, e que o livro combate por meios
diferentes.
1)
Os ascetas políticos, os militantes sombrios, os terroristas da teoria, esses
que gostariam de preservar a ordem pura da política e do discurso político. Os
burocratas da revolução e os funcionários da verdade.
2)
Os lastimáveis técnicos do desejo - os psicanalistas e os semiólogos que
registram cada signo e cada sintoma, e que gostariam de reduzir a organização
múltipla do desejo à lei binária da estrutura e da falta.
3)
Enfim, o inimigo maior, o adversário estratégico (embora a oposição do
AntiÉdipo a seus outros inimigos constituam mais um engajamento político): o
fascismo. E não somente o fascismo histórico de Hitler e de Mussolini - que tão
bem souberam mobilizar e utilizar o desejo das massas -, mas o fascismo que
está em nós todos, que martela nossos espíritos e nossas condutas cotidianas, o
fascismo que nos faz amar o poder, desejar esta coisa que nos domina e nos
explora.
Eu diria que o Anti-Édipo (que seus
autores me perdoem) é um livro de ética, o primeiro livro de ética que se
escreveu na França depois de muito tempo (é talvez a razão pela qual seu
sucesso não é limitado a um “leitorado” [“lectorat”] particular: ser anti-Édipo
tornou-se um estilo de vida, um modo de pensar e de vida). Como fazer para não
se tornar fascista mesmo quando (sobretudo quando) se acredita ser um militante
revolucionário? Como liberar nosso discurso e nossos atos, nossos corações e
nossos prazeres do fascismo? Como expulsar o fascismo que está incrustado em
nosso comportamento? Os moralistas cristãos buscavam os traços da carne que
estariam alojados nas redobras da alma. Deleuze e Guattari, por sua parte,
espreitam os traços mais ínfimos do fascismo nos corpos.
Prestando uma modesta homenagem a
São Francisco de Sales, se poderia dizer que o Anti-Édipo é uma Introdução à
vida não fascista.
Essa arte de viver contrária a todas
as formas de fascismo, que sejam elas já instaladas ou próximas de ser, é
acompanhada de um certo número de princípios essenciais, que eu resumiria da
seguinte maneira se eu devesse fazer desse grande livro um manual ou um guia da
vida cotidiana:
- Libere a ação política de toda
forma de paranóia unitária e totalizante;
- Faça crescer a ação, o pensamento
e os desejos por proliferação, justaposição e disjunção, mais do que por
subdivisão e hierarquização piramidal;
- Libere-se das velhas categorias do
Negativo (a lei, o limite, a castração, a falta, a lacuna), que o pensamento
ocidental, por um longo tempo, sacralizou como forma do poder e modo de acesso
à realidade. Prefira o que é positivo e múltiplo; a diferença à uniformidade; o
fluxo às unidades; os agenciamentos móveis aos sistemas. Considere que o que é
produtivo, não é sedentário, mas nômade;
- Não imagine que seja preciso ser
triste para ser militante, mesmo que a coisa que se combata seja abominável. É
a ligação do desejo com a realidade (e não sua fuga, nas formas da
representação) que possui uma força revolucionária;
- Não utilize o pensamento para dar
a uma prática política um valor de verdade; nem a ação política, para
desacreditar um pensamento, como se ele fosse apenas pura especulação. Utilize
a prática política como um intensificador do pensamento, e a análise como um
multiplicador das formas e dos domínios de intervenção da ação política;
- Não exija da ação política que ela
restabeleça os “direitos” do indivíduo, tal como a filosofia os definiu. O
indivíduo é o produto do poder. O que é preciso é “desindividualizar” pela
multiplicação, o deslocamento e os diversos agenciamentos. O grupo não deve ser
o laço orgânico que une os indivíduos hierarquizados, mas um constante gerador
de “desindividualização”;
- Não caia de amores pelo poder.
Poder-se-ia dizer que Deleuze e
Guattari amam tão pouco o poder que eles buscaram neutralizar os efeitos de
poder ligados a seu próprio discurso. Por isso os jogos e as armadilhas que se
encontram espalhados em todo o livro, que fazem de sua tradução uma verdadeira
façanha. Mas não são as armadilhas familiares da retórica, essas que buscam
seduzir o leitor, sem que ele esteja consciente da manipulação, e que finda por
assumir a causa dos autores contra sua vontade. As armadilhas do Anti-Édipo são
as do humor: tanto os convites a se deixar expulsar, a despedir-se do texto
batendo a porta. O livro faz pensar que é apenas o humor e o jogo aí onde,
contudo, alguma coisa de essencial se passa, alguma coisa que é da maior
seriedade: a perseguição a todas as formas de fascismo, desde aquelas,
colossais, que nos rodeiam e nos esmagam até aquelas formas pequenas que fazem
a amena tirania de nossas vidas cotidianas.
[Michel Foucault. Preface
in: Gilles Deleuze e Félix Guattari. Anti-Oedipus: Capitalism and
Schizophrenia, New York, Viking Press, 1977, pp. XI-XIV.
Traduzido por Wanderson Flor do Nascimento]
Nós, pesquisadores da
Universidade de São Paulo auto-organizados, viemos por meio desta nota divulgar
o nosso posicionamento frente à recente crise da USP.
No dia 08 de novembro
de 2011, vários grupamentos da polícia militar realizaram uma incursão violenta
na Universidade de São Paulo, atendendo ao pedido de reintegração de posse
requisitado pela reitoria e deferido pela Justiça. Durante essa ação, a moradia
estudantil (CRUSP) foi sitiada com o uso de gás lacrimogêneo e um enorme
aparato policial. Paralelamente, as tropas da polícia levaram a cabo a
desocupação do prédio da reitoria, impedindo que a imprensa acompanhasse os
momentos decisivos da operação. Por fim, 72 estudantes foram presos, colocados
nos ônibus da polícia, e encaminhados para o 91º DP, onde permaneceram retidos
nos veículos, em condições precárias, por várias horas.
Ao contrário do que tem
sido propagandeado pela grande mídia, a crise da USP, que culminou com essa
brutal ocupação militar, não tem relação direta com a defesa ou proibição do
uso de drogas no campus. Na verdade, o que está em jogo é a incapacidade das
autoritárias estruturas de poder da universidade de admitir conflitos e
permitir a efetiva participação da comunidade acadêmica nas decisões
fundamentais da instituição. Essas estruturas revelam a permanência na USP de
dispositivos de poder forjados pela ditadura militar, entre os quais: a
inexistência de eleições representativas para Reitor, a ingerência do Governo
estadual nesse processo de escolha e a não-revogação do anacrônico regimento
disciplinar de 1972.
Valendo-se desta
estrutura, o atual reitor, não por acaso laureado pela ditadura militar, João
Grandino Rodas, nos diversos cargos que ocupou, tem adotado medidas violentas:
processos administrativos contra estudantes e funcionários, revistas policiais
infundadas e recorrentes nos corredores das unidades e centros acadêmicos,
vigilância sobre participantes de manifestações e intimidação generalizada.
Este problema não é um
privilégio da USP. Tirando proveito do sentimento geral de insegurança,
cuidadosamente manipulado, o Governo do Estado cerceia direitos civis
fundamentais de toda sociedade. Para tanto, vale-se da polícia militar, ela
própria uma instituição incompatível com o Estado Democrático de Direito, como
instrumento de repressão a movimentos sociais, aos moradores da periferia, às
ocupações de moradias, aos trabalhadores informais, entre outros.
Por tudo isso, nós,
pesquisadores da Universidade de São Paulo, alunos de pós-graduação, mestres e
doutores, repudiamos o fato de que a polícia militar ocupe, ou melhor, invada
os espaços da política, na Universidade e na sociedade como um todo.
Fábio
Luis Ferreira Nóbrega Franco – Mestrando da Filosofia-USP
Henrique Pereira Monteiro – Doutorando em
Filosofia-USP
Patrícia Magalhães – Doutoranda em Física – USP
Silvia Viana Rodrigues – Doutora em Sociologia-USP
Bianca Barbosa Chizzolini – Mestranda em Antropologia-USP
José Paulo Guedes Pinto – Doutor em Economia – USP
Daniel Santos Garroux – Mestrando Pós-graduação em Teoria Literária – USP
Andrea Kanikadan – doutoradando da ESALQ-USP
Nicolau Bruno de Almeida Leonel – Doutorando em Cinema-USP
Paula Yuri Sugishita Kanikadan – Doutora em Saúde Pública – FSP/USP
Luciana Piazzon Barbosa Lima – mestranda em Estudos Culturais – EACH-USP.
Gustavo Seferian Scheffer Machado – Mestrando em Direito do Trabalho – USP
Maria Tereza Vieira Parente – Mestranda em Arqueologia – USP
Marcelo Hashimoto, doutorando em Ciência da Computação-USP.
Luiz Ricardo Araujo Florence – Mestrando em Arquitetura e Urbanismo – USP
Jade Percassi – Doutoranda em Educação – USP
Maria Caramez Carlotto – Doutoranda em Sociologia-USP
Georgia Christ Sarris – Doutoranda Filosofia-USP
José Carlos Callegari – Mestrando em Direito do Trabalho – USP
Gilberto Tedeia – Doutor em Filosofia-USP
Anderson Gonçalves- Doutor em Filosofia-USP
Douglas Anfra – Mestrando em Filosofia – USP
Fábio H. Passoni Martins – Mestrando – Depto de Teoria Literária e
Literatura Comparada
Eduardo Altheman Camargo Santos – Mestrando em Sociologia-USP
Fernanda Elias Zaccarelli Salgueiro – Graduanda Filosofia-USP
Guilherme Grandi – Doutor em História Econômica – USP
Yardena do Baixo Sheery – PPG Artes Visuais – ECA-USP
Lucia Del Picchia, doutoranda em Direito-USP
Fernando Rugitsky, mestre em Direito-USP
Ricardo Leite Ribeiro, mestrando em Direito-USP
Maira Rodrigues – doutoranda em Ciência Política – USP.
Ana Lúcia Ferraz – Doutora em Sociologia – USP.
Daniela Silva Canella, doutoranda em Nutrição em Saúde Pública – USP Tatiana de
Amorim Maranhão – Doutora em Sociologia-USP
Ana Paula SAlviatti Bonuccelli – Mestranda em História – USP
Anderson Aparecido Lima da Silva – Mestrando em Filosofia – USP
José Calixto Kahil Cohn – Mestrando em Filosofia – USP
Antonio Fernando Longo Vidal Filho – Mestrando em Filosofia -USP
Bruna Della Torre de Carvalho Lima – Mestranda em Antropologia – USP
Ana Paula Alves de Lavos – Mestre em Arquitetura e Urbanismo – EESC – USP
Lucas Amaral de Oliveira – Programa de Pós Graduação em Sociologia – USP
Bruna Nunes da Costa Triana – Programa de Pós-Graduação em Antropologia – USP
José César de Magalhães Jr. – Doutorando em Sociologia – USP
Eduardo Orsilini Fernandes – Mestrando em Filosofia -USP
Ricardo Crissiuma – mestre em Filosofia USP
Philippe Freitas – Mestrando em Música – UNESP
Weslei Estradiote Rodrigues – Mestrando em Antropologia – USP
Bruno de Carvalho Rodrigues de Freitas – Graduando em Filosofia – USP
Camila Gui Rosatti – Graduando em Ciências Sociais – USP
Martha GAbrielly Coletto Costa – mestranda em Filosofia – USP
Rafael Gargano – Mestrando em Filosofia – USP
Antonio David – Mestrando em Filosofia – USP
Pedro Alonso Amaral Falcão – Mestrando em Filosofia – USP
Lígia Nice Luchesi Jorge, PPG em Língua Hebraica, Literatura e Culturas
Judaicas – USP
Camila Rocha – Mestranda em Ciência Política – USP
André Kaysel – Doutorando em Ciência Política – USP
Michele Escoura – Mestranda em Antropologia -USP
Vladimir Puzone -Doutorando em Sociologia-USP
Arthur Vergueiro Vonk – Mestrando em Teoria Literária e Literatura Comparada –
USP
Renata Cabral Bernabé – Mestranda em História Social – USP
Raquel Correa Simões – Graduanda em Filosofia – USP
Danilo Buscatto Medeiros – Mestrando em Ciência Política-USP
Ana Flávia Pulsini Louzada Bádue – Mestranda em Antropologia-USP
Carlos Henrique Pissardo. Mestre – Dep. de Filosofia da USP e Diplomata.
Anouch Kurkdjian – Mestranda em Sociologia-USP
Léa Tosold – Doutoranda em Ciência Política-USP
Pedro Fragelli – Doutor em Literatura Brasileira-USP
Christy Ganzert Pato – Doutor em Filosofia – USP
José Agnello Alves Dias de Andrade – Mestrando em Antropologia – USP
Nicolau Dela Bandera – doutorando em Antropologia USP
Felipe de Araujo Contier – Mestrando em Arquitetura-IAU-SC-USP
Mauro Dela Bandera Arco Júnior – mestrando em Filosofia USP
Ane Talita da Silva Rocha – mestranda em Antropologia – USP
Juliana Andrade Oliveira – Doutoranda em Sociologia
Reinaldo César – Doutorando em Ciência dos Materiais – USP
Manoel Galdino Pereira Neto – doutor em ciência política da USP
Carlos Filadelfo de Aquino, doutorando em Antropologia USP.
Jonas Marcondes Sarubi de Medeiros – mestrando em Filosofia-USP
Ana Letícia de Fiori – Mestranda em Antropologia – USP
Gonzalo Adrián Rojas – Doutor Ciência Política USP
Mariana Toledo Ferreira – Mestranda em Sociologia – USP
Julia Ruiz Di Giovanni – Doutoranda em Antropologia Social
Caio Vasconcellos – doutorando em sociologia – USP
Reginaldo Parcianello – doutorando/Literatura Portuguesa – USP
Fernando Sarti Ferreira – mestrando em História Econômica – USP
Júlia Vilaça Goyatá – mestranda em Antropologia- USP
Maria Aparecida Abreu – doutora em Ciência Política – USP
Bruno Nadai – Doutorando em Filosofia – USP
João Alexandre Peschanski – Mestre em Ciência Política – USP
Lucas Monteiro de Oliveira – Mestrando em história social – USP
Fabrício Henricco Chagas Bastos – Mestrando em Integração da América Latina –
USP
Rafaela Pannain – Doutoranda em Sociologia- USP
Bernardo Fonseca Machado – mestrando em Antropologia – USP
Victor Santos Vigneron de La Jousselandière – mestrando em História – USP
Gabriela Siqueira Bitencourt – mestre em Letras – USP
Dalila Vasconcellos de Carvalho , Mestre em Antropologia Social-USP.
César Takemoto Quitário – mestrando em Letras – USP
Maíra Carmo Marques – mestranda em Letras – USP
Ana Carolina Chasin – doutoranda em sociologia-USP
Dimitri Pinheiro – doutorando em sociologia-USP
Natália Fujita – doutoranda em Filosofia – USP
Julio Miranda Canhada – doutorando em Filosofia – USP
Caio M. Ribeiro Favaretto Mestrando Dpto de Filosofia – USP
Juliana Ortegosa Aggio – doutoranda em Filosofia – USP
Bruna Coelho – mestranda em Filosofia – USP
Ana Carolina Andrada – mestranda em Sociologia – USP
Karen Nunes – mestranda em sociologia – USP
Monise Fernandes Picanço – Mestranda em Sociologia – USP
Arthur Oliveira Bueno – Doutorando em Sociologia – USP
Guilherme Nascimento Nafalski – mestre em Sociologia – USP
Tatiane Maíra Klein, Mestranda em Antropologia Social/USP
Ana Paula Bianconcini Anjos – doutoranda em Letras – USP
José Paulo Martins Junior – Doutor em ciência política – USP
Demétrio Gaspari Cirne de Toledo – Doutorando Sociologia – USP.
Pedro Fragelli – Doutor em Literatura Brasileira-USP
Evandro de Carvalho Lobão – Doutor em Educação – FE/USP
Walter Hupsel – Mestre em Ciência Política – USP
Carina Maria Guimarães Moreira e sou doutoranda em Artes Cênicas na UNIRIO.
Marinê de Souza Pereira – Doutora em Filosofia-USP
Fabiola Fanti – Mestre em Ciência Política – USP
Verena Hitner – mestre em Integracao da America Latina – USP
Fabio Cesar Alves – Doutorando- Teoria Literária- FFLCH- USP
Frederico Hnriques - Mestre em Sociologia pela USP
Fábio Pimentel De Maria da Silva – Mestre em Sociologia – USP
Natália Bouças do Lago – mestranda em Antropologia USP
Fábio Silva Tsunoda – mestrado em sociologia – USP
Terra Friedrich Budini, doutoranda em ciência política – USP
Natália Helou Fazzioni – Mestranda em Antropologia Social – USP
Renato Bastos – Mestre em História Econômica – USP
Andreza Tonasso Galli – Mestranda da Sociologia -USP
Andreza Davidian – mestranda em Ciência Política – USP
Dioclézio Domingos Faustino – Mestrando – Filosofia – USP
Fernando Costa Mattos – Doutor em Filosofia – USP
Joaquim Toledo Jr – Mestre em Filosofia pela USP.
Erinson Cardoso Otenio – doutorando em filosofia – USP
Berilo Luigi Deiró Nosella, sou doutorando em Artes Cênicas na UNIRIO
Rafael Alves Silva – Doutorando em Sciências Sociais – UNICAMP
Ludmylla Mendes Lima – Doutoranda em Estudos Comparados de Literaturas de
Língua Portuguesa – USP
Tânia Cristina Souza Borges – Mestranda em Letras – USP
Miguel Barrientos – Doutorando em Ciência Política – USP.
Eveline Campos Hauck – Mestranda em filosofia pela USP
Mariana Zanata Thibes – Doutoranda Sociologia – USP
Nahema Nascimento Barra de Oliveira Mestre em Ciencias Humanas – USP
Manoel Galdino Pereira Neto – Doutor em Ciência Política-USP
Gonzalo Adrián Rojas – Doutor em Ciencia Politica-USP
Miguel Barrientos – Doutorando em Ciência Política-USP
Maria Aparecida Abreu – Doutora em Ciência Política-USP
Pedro Feliú – Doutorando em Ciência Política – USP
Fernando Gonçalves Marques – Doutorando em Ciência Política-USP
Petronio De Tilio Neto – Doutor em Ciência Política-USP
José Paulo Martins Junior – Doutor em Ciência Política-USP
Renato Francisquini – Doutorando em Ciência Política-USP
Júlio César Casarin Barroso Silva – Doutor em Ciência Política-USP
Francisco Toledo Barros – Mestrando em Arquitetura e Urbanismo
Marcia Dias da Silva – Mestre em História Social – USP
Maira Rodrigues – doutoranda em Ciência Política – USP.
Ivana Pansera de Oliveira Muscalu – Mestranda História Social – USP
Renata Lopes Costa Prado – Doutoranda do Programa de Psicologia Escolar e do
Desenvolvimento Humano – USP
Emi Koide – Doutora em Psicologia – USP
Mario Tommaso Pugliese Filho – Mestre em Literatura Brasileira – USP.
Gabriela Viacava de Moraes – Mestranda em Literatura Brasileira – USP
Tatiane Reghini Matos – Mestranda em Letras – USP
Andréia dos Santos Meneses – Doutoranda em Letras – USP
Kátia Yamamoto – Mestranda em Psicologia USP
Lygia de Sousa Viégas - Doutora em Psicologia Escolar e do
Desenvolvimento Humano da USP.
Daniel Gomes da Fonseca – Mestrando em Teoria Literária e Literatura Comparada
– USP
Michelangelo Marques Torres – mestrando na Unicamp e graduado pela USP
Luana flor Tavares Hamilton – mestrança em psicologia – USP
Renan Honório Quinalha – mestrando em Sociologia Jurídica na USP
Adriana De Simone – Doutora em Psicologia – IP/USP
Grazielle Tagliamento – doutorado PST – USP
Tamara Prior- mestranda em História Social – USP
Airton Paschoa -Mestre em Literatura Brasileira – USP
Daniela Sequeira – mestra em Ciência Política – USP
Thaís Brianezi Ng – doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência
Ambiental – USP
Davi Mamblona Marques Romão – mestrando – PSA – Psicologia
Rafael Godoi – Doutorando em Sociologia -USP
Vanda Souto – Mestranda em Ciências Sociais – UNESP – Marília
Pedro Rodrigo Peñuela Sanches – Mestrando em Psicologia USP
Grazielle Tagliamento – Doutoranda Psicologia – USP
Monica Loyola Stival – Doutoranda em filosofia – USP
Tatiana Benevides Magalhães Braga Doutora em Psicologia Escolar e do
Desenvolvimento Humano pela USP
Regina Magalhães de Souza, doutora em Sociologia – USP
Ludmila Costhek Abilio – Mestre em sociologia – USP
Gabriela Viacava de Moraes – Mestranda em Literatura Brasileira – USP
Tatiane Reghini Matos – Mestranda em Letras – USP
Andréia dos Santos Meneses – Doutoranda em Letras – USP
Edson Teles – doutor em Filosofia – USP
Julia Maia Peixoto Camargo – Graduanda em Ciências Sociais-USP
Rodnei Nascimento – Doutor em filosofia – USP.
Rafael Luis dos Santos Dall’olio – Mestrando em História Social – USP
Ana Aguiar Cotrim – Doutoranda em Filosofia – USP
Tercio Redondo – Doutor em Literatura Alemã – USP
Maria Cláudia Badan Ribeiro Doutora em História Social – USP
Pedro Mantovani- Mestrando em Filosofia- USP
Stefan Klein – Doutorando em Sociologia – USP
Wagner de Melo Romão, doutor em Sociologia -USP
Maria de Fátima Silva do Carmo Previdelli – Doutoranda em História
Econômica – USP
Felipe Pereira Loureiro – doutorando em História Econômica – USP
Thiago de Faria e Silva – Mestre em História Social – USP
Marcus Baccega – Doutor em História Medieval – USP
Luciana Moreira Pudenzi – Mestre em Filosofia – USP
Daniela Jakubaszko – Doutora em Ciências da Comunicação pela ECA-USP
Leo Vinicius Maia Liberato, ex-pos-doutorando no Departamento de Filosofia da
USP
Maria Lívia Nobre Goes – Graduanda em Filosofia-USP
Agnaldo dos Santos – Doutor em Sociologia – USP
Annie Dymetman doutora em Ciências Sociais – USP
Evandro NoroFernandes – Mestre em Geografia- USP
Wilma Antunes Maciel - Doutora em História Social – USP
Luciano Pereira – Doutor em filosofia – USP
Guilherme Varella, mestrando em Direito de Estado
Constância Lira de Barros Correia Rodrigues Costa – Mestranda em Ciência
Política – USP
Ester Gammardella Rizzi – Mestre em Filosofia e Teoria Geral do Direito – USP
Cristiana Gonzalez - mestranda em sociologia – USP
Rafaela Aparecida Emetério Ferreira Barbosa – Mestranda em Direito do Trabalho
– USP
Franco Nadal Junqueira Villela – Mestre em Ciência Ambiental – USP
Clara Carniceiro de Castro, doutoranda em Filosofia-USP
Marcelo Netto Rodrigues – mestrando em Sociologia – USP
Elisa Klüger – mestranda em sociologia – USP
Marilia Solfa – Mestre em Arquitetura – USP
Pedro Feliú – Doutorando em Ciência Política – USP.
Renato Francisquini, doutorando em Ciência Política – USP
Júlio César Casarin Barroso Silva – doutor em Ciência Política – USP
Andreza Davidian – mestranda em Ciência Política – USP
Andrea Kanikadan – doutorando em Ecologia Aplicada na ESALQ em Piracicaba.
Miguel Barrientos – Doutorando em Ciência Política – USP
Diogo Frizzo – Mestrando em Ciência Política – USP
Vinicius do Valle – Mestrando em Ciência Política – USP
Carolina de Camargo Abreu – Doutoranda em Antropologia – USP
Tatiana Rotolo- Mestre em Filosofia pela USP
Pedro Ivan Moreira de Sampaio – Graduando em Direito PUC-SP e Filosofia – USP
Thaís Brianezi Ng, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental
– USP
André-Kees de Moraes Schouten – Doutorando em Antropologia Social – USP
Alvaro Pereira – Mestre em Direito – USP
Vinícius Spira – mestrando em Ciências Sociais – USP
Rafael Faleiros de Pádua, doutorando em Geografia-USP
André Luis Scantimburgo – Mestrando em Ciências Sociais pela UNESP de
Marília/SP.
Rosemberg Ferracini – Doutorando em Geografia Humana – Universidade de São
Paulo – USP
Lucas Brandão – Mestrando em Sociologia-USP
Márcia Cunha – doutoranda em Sociologia – USP
Nilton Ken Ota – doutor em Sociologia – USP
Felipe Figueiredo – Bacharel em Letras – USP
Bruno Boti Bernardi – Doutorando em Ciência Política – USP
Roberta Soromenho Nicolete – Mestranda em Ciência Política – USP
Lara Mesquita – Mestre em Ciência Política – USP
Milene Ribas da Costa – Mestre em Ciência Política – USP
Katya dos Santos Schmitt Parcianello – mestranda em História Econômica/ USP
Alcimar Silva de Queiroz – Doutor em Educação – USP
Paulo Vinicius Bio Toledo – mestrado Artes Cênicas
Ruy Ludovice – mestrando em Filosofia – USP
Pollyana Ferreira Rosa – Mestranda em Artes Visuais – USP
Patrícia de Almeida Kruger – Mestranda em Letras – USP
Giselle Cristina Gonçalves Migliari – Mestranda em Literatura Espanhola – USP
Wellington Migliari – Mestre em Literatura Brasileira – USP
Diana P. Gómez – Mestranda Antropologia Social
Simone Dantas – Mestranda em Letras-USP
Eduardo Zayat Chammas, mestrando em História Social – USP
Maristela de Souza Pereira – Doutoranda em psicologia – USP
Virginia Helena Ferreira da Costa - Mestranda em filosofia – USP
Gustavo Motta – mestrado Artes Visuais – USP
Luiz Fernando Villares, doutorando Faculdade de Direito – USP
Obs: A
nota dos pesquisadores da USP segue recebendo adesões. Devido a
problemas virtuais, as assinaturas estão sendo coletadas. Para assinar é
preciso enviar um e-mail para o seguinte destinatário: abstrai@yahoo.com.br Com
o texto: ”Peço a inclusão dos meus dados na lista”, abaixo, insere-se os
dados (nome – mestrando/doutorando- instituição).
Nas últimas semanas a questão da polícia militar no
campus Butantã da USP tem dividido opiniões. Quero hoje comentar alguns
aspectos dessa questão. Iniciarei pelo motivo que parece ter sido decisivo para
que o convênio da polícia tenha sido firmado peloreitor biônicoJoão Grandino Rodas.
No princípio era o medo...
Já faz alguns anos que a questão da violência no campus
vem ganhando espaço nos debates internos da comunidade uspiana. No início desse
ano, essa questão veio à tona nos jornais internos do campus, com mais ênfase,
depois da divulgação de estatísticas que apontavam para certa intensificação da
criminalidade dentro da cidade universitária.
É preciso destacar inicialmente dois fatos que usualmente
se esquece de mencionar quando se fala da criminalidade no campus. Primeiro, a
cidade universitária não é mais violenta que os seus contornos. Ao contrário,
mesmo com o aumento na criminalidade visto no início do ano, os índices de
cometimento de crimes dentro do campus eram menores do que a média dos locais
em torno da universidade. Em segundo lugar, não é verdade que nesse período de
intensificação da criminalidade a polícia não estava presente no campus. Desde
1997 a policia já auxilia a guarda universitária nas rondas pelo campus, sua
presença na cidade universitária é a mesma que no restante da cidade de São
Paulo. Em verdade, o campus Butantã da USP tem próximo a todos os seus portões
algum ponto policial, além de ficar bem próximo do instituto de criminalística
da polícia civil e ter em seu interior a academia de polícia.
Mas dito isso, voltemos ao ponto. Quando do assassinato
do estudante da FEA esse ano, os debates sobre segurança foram intensificados
pela onda de medo que se espalhou pela USP. Nesse contexto, a comunidade de
estudantes chegou a alguns consensos importantes sobre medidas de segurança no
campus. Naquela ocasião as medidas de consenso eram: melhorar a iluminação do
campus (que é muito ruim), dar treinamento adequado à guarda comunitária,
instalar um sistema de comunicação com rádio funcional para a guarda
comunitária, maior integração do campus para evitar os espaços vazios com
transito de pessoas sozinhas, intensificar a freqüência dos circulares
internos, dentre outras meditas tanto imediatas quanto de aplicação a longo ou
médio prazo. O único ponto que dividia as opiniões da comunidade era a
intensificação da presença da polícia militar no campus. Curiosamente, de todas
essas medidas, a única implementada foi o aumento do policiamento pela PM.
Gota d'agua
Com essa medida tomada pelo reitor biônico, as
estatísticas da polícia apontam para uma queda de 90% dos crimes na cidade
universitária. Sem querer contestar a “imparcialidade” desses dados, tenho
quase certeza que esses números não incluem alguns delitos como, invasão de
centros acadêmicos, abuso de autoridade, racismo dentre outras práticas
policiais que tem causado incomodo na comunidade que freqüenta o campus.
A Segurança Simbólica
Sobre a atuação da
PM no campus gostaria de mencionar inicialmente duas coisas. Primeiro, acho que
não é completamente correto afirmar que a intensificação do policiamento no
campus seja responsável pela suposta queda nos índices de criminalidade.
Depois da prática de um crime de grande repercussão
sempre há a diminuição da prática de crimes no local. Isso acontece
fundamentalmente pelo medo da visibilidade que se desperta nos agentes
criminosos. Além disso, se somarmos a esse fato a notícia de intensificação de
segurança (no caso a maior presença da PM), isso promove um recuo inicial de
criminosos que passam a preferir outras áreas. Veja que, qualquer medida que
fosse noticiada como segurança provocaria esse efeito. O ponto é que esse
efeito simbólico provocado pelo medo da visibilidade e da notícia de segurança
é passageiro. Esses efeitos são geralmente bastante intensos, mas tendem a ser
amortizados ao longo do tempo e em pouco menos de um ano perdem completamente a
eficácia.
A característica da medida simbólica é precisamente essa.
Ela se coloca como uma forma de solucionar um determinado problema. Mas, finda
não só por não solucionar, como ainda impede que outras possibilidades de
solução sejam colocadas em prática. É disso que se trata essa última
intensificação da PM no campus.
Veja que a solução efetiva para a segurança na USP é
muito simples. Normalmente ficamos escandalizados com a gravidade e mesmo o
medo que a violência nos causa. Mas, o que temos que lembrar é que a cidade
universitária é um lugar inteiramente murado, com apenas 3 (três) portões de
acesso. As taxas de criminalidade internas na USP já são menores que as
externas. Precisamos mesmo do elementar. Por exemplo, a guarda universitária tem
que funcionar, tem que ter o mínimo de treinamento, um contingente razoável,
ter rádios de comunicação funcional (pasmem, nem um sistema de comunicação esses
funcionários tem hoje).
A USP tem um orçamento de mais de 3,9 Bilhões de Reais, se
ela fosse um município seria a cidade com o 7º maior orçamento do Brasil. Será que
com todos esses recursos o Rodas é incapaz de estruturar uma guarda universitária
para fazer a segurança de uma área murada com apenas três portões de entrada?
A questão é que resolver o problema nunca foi a intenção.
A grande utilidade aqui é o medo. O mesmo medo que permitiu a Hobbes criar seu soberano
é o que esse reitor Biônico está utilizando para construir a legitimidade que ele
não tem como extrair da democracia.
Mas, em segundo lugar, precisamos observar as práticas
concretas da polícia no campus. Nesse sentido, a polícia tem apenas circulado
por lá. Nesses poucos passos de coturno os agentes de polícia já começaram a
mostrar a que efetivamente vieram.
A Violência Seletiva
Já tive a oportunidade de escrever sobre a polícia
paulista de forma geral em uma postagem anterior que pode ser encontradaaqui. Observemos então o que a polícia
tem efetivamente feito no campus Butantã da USP.
Poucas semanas depois que o reitor biônico João G. Rodas firmou o famigerado convênio com a PM,
começou a surgir nos grupos on-line dos estudantes algumas denuncias de
abordagem abusiva dos policiais. Lembro-me de duas estudantes da ECA que
reclamavam por terem sofrido uma revista de policiais masculinos no caminho
para a faculdade, houve também alguns casos de estudantes enquadrados na praça
do relógio no caminho para o bandejão. Há mais exemplos no jornal Brasil de Fato dessa semana. Fato é, que os casos foram se
multiplicando. Em quase todas as faculdades pudemos observar queixa dos
estudantes, mas os locais onde essas reclamações foram mais freqüentes foi na
FFLCH e no CRUSP.
Não é sem razão que as abordagens abusivas da PM tenham
se concentrado nesses locais. A FFLCH deve ser hoje uma das unidades da USP que
tem o maior número de estudantes vindos de classes sociais menos abastardas.
Uma grande parte dos estudantes dali vieram de escolas públicas, muitos moram
nas periferias de São Paulo e parte significativa deles são negros. Logo, são
esses que tem o perfil que a polícia aborda de forma mais despudorada. O mesmo
vale para o CRUSP, lugar em que moram aqueles que não podem custear o preço
elevadíssimo da moradia no entrono do campus.
Além disso, precisamos lembrar do significado histórico
que tem a polícia para a FFLCH e a vice versa. Trata-se de uma longa história
de repressão e insurgência. Há quem afirme que essa memória histórica é pura
balela, que os estudantes não viveram esse período, logo não podem guardar esse
tipo de sentimento. Ocorre que, é preciso destacar que não é o estudante que
carrega essa memória, nem o policial. Esse sentimento habita a instituição em
si, ela é que transmite para seus integrantes esse peso histórico. No caso da
ditadura civil-militar essa memória é ainda mais forte. Primeiro, pelo fato de
ser algo muito recente em nossa história. Em segundo lugar, é importante
salientar que, os agentes que reprimiam os estudantes nas décadas de 60, 70 e
80 hoje comandam as forças policiais. O Estado pode ter ganhado formas
democráticas, mas, devido à anistia geral e irrestrita, os agentes da repressão
permaneceram e deram seqüência a suas carreiras no bojo de instituições que
carregam em si o espírito do fascismo. Nesse sentido, somos um dos poucos
países ditos democráticos cuja principal força policial é ainda militar
(Polícia Militar). Seria demasiada ingenuidade acreditar que a manutenção da PM
na Constituição de 1988 não se ratava exatamente de guardar um lugarzinho no
nosso Estado para a manutenção do germe da exceção.
De toda forma, podemos dar exemplos mais concretos. Por
que a policia faria revista em estudantes que estão entrando ou saindo da
biblioteca da FFLCH? Por que quando houve a desocupação da reitoria, o primeiro
lugar cercado pela tropa de choque foi o CRUSP? Isso mostra que a PM enxerga
nos estudantes seus inimigos, acreditam que nós devemos ser contidos, cercados,
revistados. Eu particularmente não me sinto seguro quando aqueles que supostamente
estão lá para fazer a segurança me vêem como inimigo.
Nesse sentido, o que aconteceu desde a assinatura desse
convenio com a PM é que a violência passou a ser selecionada. Ela agora
seleciona pessoas, com algumas preferências e preconceitos e seleciona também
sua modalidade. A curto prazo, trocamos os furtos e roubos por abuso de
autoridade e a médio prazo estaremos somando ao furto e ao roubo esse mesmo
abuso de autoridade, racismo e outros crimes praticados pela PM.
A FFLCH e o estereótipo
Preciso apenas destacar que justamente por ter sido na
FFLCH o estopim para os ocorridos na USP, essa faculdade passou a ser
sistematicamente estereotipada pela grande mídia, junto com o movimento que
nela teve início.
Não vou repetir todas as calúnias aqui, mas quero apenas
mencionar que a FFLCH, ao contrário do que se afirma por ai, não é lugar de
vagabundo ou de playboyzinhos. É preciso destacar que dentre os 9 melhores cursos da USP 6 são os da FFLCH. Ela está
entre as unidades que mais produzem pesquisa, tem provavelmente a maior
relevância internacional de todas as unidades da USP, possui o maior número de
professores verdadeiramente acadêmicos de dedicação para com a universidade e
tem as melhores avaliações da CAPES.
Então, longe de ser uma faculdade de vagabundos e
mimados, a FFLCH é sim a unidade mais produtiva de toda USP e com todos os seus
cursos entre os mais bem avaliados da universidade. Se a FFLCH não integrasse a
USP certamente a maior universidade brasileira não apareceria em nenhum dos
índices internacionais. E a faculdade conquistou tudo isso com pouquíssimos
investimentos públicos (comparados aos recursos de outras unidades), bem como
sem receber um centavo da iniciativa privada ou de fundações.
Por fim, longe de ser uma unidade de playboys, a sua
marca é justamente o oposto. A maioria de seus estudantes vem de classes
sociais menos abastardas e objetivam justamente se tornar professores e
professoras, objetivam produzir pesquisa e conhecimento.
“Diante
de alguns comentários que li e ouvi por aí, é importante afirmar que é
inaceitável a desqualificação que alguns fazem dos alunos e professores da
FFLCH e do conhecimento que se produz naquela faculdade. A FFLCH é um lugar
que, historicamente, produziu e continua produzindo pensamento crítico,
fundamental não só para a USP e para São Paulo, mas para um país que deseja
incluir na agenda de seu crescimento econômico algo mais do que possibilitar a
todos comprar mais geladeiras, carros e roupas iguais às das celebridades.” [1]
Quem os olhos do poder vigiam?
Falei muito já da FFLCH e do CRUSP, mas é preciso que se
diga que, no fundo, não são só eles que estão na mira da polícia e do reitor
biônico. A verdade é que as atitudes da polícia denunciam que sua principal
função no campus não é proteger, mas vigiar a comunidade.
Nesse sentido é que a polícia coloca em cheque justamente
a liberdade da universidade, da comunidade acadêmica. Não há distinção real
entre a liberdade de agir e a liberdade de pensar. Quando a polícia começa a
revistar estudantes pelo simples fato de estarem conversando em grupo ou por
estarem lendo um perigoso livro à sombra (como aconteceu na escola Politécnica)
começamos a entender por que a PM é causa de insegurança.
Para quem nunca tomou um “enquadro” da PM, já digo que é
bem pior do que você imagina. Trata-se de uma revista minuciosa em tudo que
estiver com você ou em você. É um procedimento em que os policiais te alugam
por mais de 40 minutos e durante todo tempo te insultam e não admitem qualquer
contestação ou questionamento. Ao termino do procedimento, você é liberado com
um insulto final ou uma ameaça. Isso é, se formos otimistas, não é incomum
plantarem alguma coisa na sua mochila para tentarem ainda extorquir algum
dinheiro. Todos os relatos que temos na USP obedecem mais ou menos a essa
estrutura.
Além disso, a polícia tem ainda enviado agentes a paisana
nas reuniões dos sindicatos ligados a USP e mesmo em espaços mantidos pelos
Centros Acadêmicos. Em alguns casos os policiais invadem os C.As de forma mais
direta mesmo, como já aconteceu no prédio dos cursos de História e Geografia.
Também podemos ver nos relatos das abordagens policiais
perguntas típicas desse controle que a polícia pretende estabelecer sobre a
comunidade. Vejamos alguns exemplos: “Você é da FFLCH aqueles que não querem a
PM aqui?” “Você é contra a nossa presença aqui?”. Há também frases mais
provocativas durante a revista de estudantes: “É malandro, você não quer a
gente aqui, mas nós viemos pra ficar, e ficar mesmo na sua cola vagabundo.”
Agora, que interesse está por traz dessa atuação da
polícia? Afinal de contas o que quer esse reitor biônico com esse tipo de
vigilância no campus?
O reitor biônico, sua segurança e nossa submissão
Acredito que o atual reitor biônico da USP tem pleno
conhecimento da forma como tem atuado a polícia no campus e penso que talvez
essa tenha sido sua intenção desde o princípio.
A verdade é que, por absoluta falta de legitimidade
democrática, J. G. Rodas tem nas forçar repressivas a única forma de se manter
no comando da universidade. Ele foi recusado por seus pares nas eleições; desde
o primeiro dia de sua gestão o movimento estudantil o questiona por ter sido
indicado pelo governador sem ter sido eleito; recentemente, mesmo a sua unidade
de origem, a faculdade do largo São Francisco, concedeu a ele o título de personanon grata, por unanimidade da congregação. Logo, dentro das estruturas
de poder internas da própria universidade Rodas está enfrentando sérios
problemas em sua gestão. Dessa forma, só resta ao reitor buscar instrumentos
externos para assegurar sua própria posição.
Além disso, temos que lembrar também um pouco da
trajetória desse senhor nomeado pelo então governador José Serra como reitor
por interesse partidário do PSDB. João Grandino Rodas é um homem conservador,
com algumas tendências fascistas,
desde o início de seu percurso acadêmico e jurídico flertou com os quadros do
autoritarismo nacional, não é por acaso que rodas está hoje ao lado de pessoas
como Alfredo Buzaid (Min. da Justiça
de 1969-1974) no rol de persona non grata na Faculdade de
Direito.
Mas J. G. Rodas provou mesmo sua fidelidade aos militares
quando participou da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos
Políticos entre 1995 e 2002. Nessa comissão atuou ativamente na defesa dasatrocidades da ditadura, votando contra o reconhecimento da responsabilidade do
Estado no período. O caso mais marcante foi o da Zuzu Angel no qual Rodas votou
contra a responsabilidade da ditadura pela morte da estilista (nesse caso ao
menos ele foi voto vencido).
Como Diretor da Faculdade de Direito, “no último dia,
Rodas baixou portarias cujo conteúdo foi mantido em segredo por algum tempo.
Uma delas nomeia duas salas da faculdade como Pinheiro Neto e Pedro
Conde, como contrapartida a doações de R$ 1 milhão recebidas do escritório
do primeiro e da família do segundo. Tais doações teriam sido feitas em
desacordo com o regimento da Universidade e com parecer da Consultoria Jurídica
USP, que, em caso semelhante na FEA, declarou inválida a modalidade de doação
com contraprestação, mesmo que apenas simbólica. A negociação foi conduzida
pelo presidente da Associação dos Antigos Alunos da FDUSP, com a participação
da então diretoria do Centro Acadêmico XI de Agosto.” [2] Isso
para não mencionar que foi também o atual reitor que colocou a Tropa de Choque
nas Arcadas da FDUSP em 2007 e que, durante a ocupação da reitoria daquele ano
se vangloriava ao afirmar que, se ele fosse reitor a policia já tinha prendido
todos os ocupantes (essa promessa ele cumpriu).
Não é de estranhar que o Rodas esteja, hoje, sobinvestigação do Ministério Público por
suspeita de “violação aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade,
burla ao acesso de cargo mediante concurso público, lesão aos cofres públicos e
improbidade administrativa” [3]
Fato é que o projeto de J. G. Rodas para a USP é
antagônico a própria idéia de universidade. A intenção do reitor biônico é
colocar fim a toda forma de organização estudantil ou sindical da USP. Ele,
mais do que ninguém, enxerga nessas mobilizações um inimigo. Para tal seu
projeto é a continuação do que o Regime Militar começou a fazer na USP.
Quando a USP foi criada, a marca que se idealizou para o
campus era a integração. As unidades deveriam se distribuir de forma circular
tendo como centro a praça do relógio. O objetivo era que as pessoas circulassem
pelos mesmos espaços. Os bandejões seriam assim o ponto mais interno do raio da
circunferência, todos voltados para a praça. A idéia era fomentar o convívio de
todas as áreas do conhecimento e de todos os setores da universidade.
Com o golpe de 1964 esse sonho acabou. A USP foi
fragmentada e espalhada. As unidades foram atomizadas na cidade universitária e
unidas apenas por um circular com freqüência duvidosa. Os restaurantes universitários
divididos em pontos afastados e com funcionamento independente entre si.
Assembléia no São Nobre - FDUSP (São Francisco)
Apesar disso, as organizações estudantis e sindicais
conseguiram se estruturar na USP. E até o presente momento, essas organizações
são a pedra no sapato do entulho autoritário que se mantém na estrutura de
gestão da universidade. As festas universitárias ainda conseguem ser momentos
de integração. Acredito que, por exemplo, o “Quinta e Breja” seja um local que
termina aglutinando pessoas de inúmeros cursos. Além disso, são essas festas
que custeiam a organização estudantil. Não falo aqui apenas do movimento
político puramente, mas os centros acadêmicos, as atléticas, de certa forma, as
festas universitárias são um meio de arrecadar fundos para toda atividade
estudantil.
É precisamente essa autonomia de organização estudantil
que o projeto do atual reitor biônico busca por fim. Basta lembrar que desde o
início do ano Rodas busca atacar as festas no campus da USP, com o pretexto de
“regulamentá-las” a reitoria busca sim atacar um dos principais locais onde
ainda existe integração no campus.
Curiosamente essa lógica de transformar a USP em átomos
isolados é precisamente um dos fatores de insegurança no campus. Parece-me que
a lógica de colocar a PM para fazer a segurança é alimentada pela idéia mesma
de separar e transformar a universidade em faculdades isoladas. É por falta de
integração que tudo é tão longe na cidade universitária, é por falta de
convivência que nós estudantes começamos a construir estereótipos uns dos outros,
é por causa desse afastamento que ficamos tão vulneráveis em um campus marcado
por espaços vazios e ruas escuras. O projeto que Rodas representa é
precisamente o de colocar um deserto de escuridão entre cada faculdade para
conseguir, pelo medo do escuro, assegurar que ninguém enxergue “o outro”. Esse
outro que está tão perto de nós, é tão parecido conosco e almeja as mesmas
coisas, finda por desaparecer ou é pintado como o inimigo.
PM faz segurança do Reitor
Mesmo as manobras que o reitor biônico tomou para que o metrô
não tivesse uma estação na praça do relógio, como constava do projeto inicial da
linha amarela, demonstra sua intenção de manter o atomismo, o isolamento da USP.
Rodas é então o símbolo desse projeto autoritário que
busca construir um aglutinado de faculdades dóceis, submissa aos seus
desígnios. Não é sem razão que de todas as medidas de seguranças que haviam
sido acordadas por unanimidade, o reitor biônico optou por implementar a única
que não é pacífica pelos interesses da comunidade. Essa é mais uma forma de nos
dividir internamente e permitir que ele, esse reitor ilegítimo, se perpetue no
poder com apoio externo e estranho à universidade. No fundo a segurança que
Rodas busca é apenas a sua própria.
Quem não deve não teme? Será que alguém não deve?
Manifestação dos Estudantes no Centro
Diante de todo esse quadro, alguns alunos têm defendido a
presença da polícia no campus com o grito de “quem não deve não teme”. Primeiro
é preciso alertar esses alunos que não há efetivamente uma distinção entre eles
e os estudantes que estão sendo vítimas dos abusos policiais. Fato é que se
hoje o alvo da polícia tem se concentrado mais em faculdades como a FFLCH, a
curto prazo os agentes policiais também expandirão seu controle e vigilância
para outros grupos.
Por exemplo, hoje, de acordo com a lei estadual 13.545/09 é proibido a compra e venda de qualquer
bebida alcoólica dentro de instituições de ensino mantidas pela administração
estadual. No momento em que a polícia puder operar com mais tranqüilidade no
campus, certamente Rodas poderá das mais um passo e atacar as festas da cidade
universitária que ele tanto deseja extinguir. Particularmente não sou um ávido
freqüentador dessas festas. Não sou muito afeito a baladas e coisas do gênero.
Mas sou um ferrenho defensor de que os espaços da universidade possam ser
ocupados por esses eventos que dão real significado à vida universitária e que
no fundo não prejudicam ninguém. Defendo com unas e dentes os direitos dos
estudantes de promoverem seus próprios eventos, até por que no fundo, o direito
dos meus colegas é o meu direito também.
Quando alguns alunos desavisados afirmam que “maconheiro
tem mesmo é que apanhar”, eles nada mais estão defendendo que o direito da
policia de agir da mesma forma eles mesmos. Se a polícia puder agredir os
usuários de canabis, certamente poderá fazer o mesmo com quem compra ou quem
vende cerveja no campus. É apenas uma questão de conveniência e oportunidade
das forças policiais e do reitor. Poderíamos chegar sim ao ponto de ver a
polícia combatendo o tráfico, não de maconha, mas de cerveja na USP, afinal
dentro da USP álcool é droga ilícita segunda a legislação.
Se formos enumerar todos os ilegalismos que fazem parte
da vida na USP teríamos uma lista quase infinita. A verdade é que a vida
universitária não cabe dentro do binômio legal do proibido/permitido,
legal/ilegal. Como exemplos podemos falar dos Xerox dentro da USP, dos cursos
de idiomas geridos pelos C.As e que se utilizam de prédios públicos; isso para
não falar das Fundações que vilipendiam o patrimônio público. Nem o Reitor em
si escaparia do crivo.
Mas meu ponto é simplesmente que a legalidade não é um apriori inquestionável que deve ser
cumprido a qualquer custo. E também quem decide que leis devem ser cumpridas e
quais não devem? A polícia? É esse poder que queremos que a polícia militar
tenha no campus?
No fundo o que temos que ter clareza é que a Universidade
é um local por excelência onde as leis, a própria sociedade pode ser debatidas
e mesmo experimentadas de outros modos. A autonomia universitária foi
consagrada na Constituição precisamente para que a universidade pudesse ser um
local de ampliação das liberdades. Um local onde o que parece impensável, possa
ser vivido, e ousado. Sem essa liberdade a universidade não se justifica, não
cumpre com seu dever ser histórico.
Parece-me que os grandes
problemas que enfrentamos na sociedade do nosso tempo são atribuídos a falta
das luzes da lei. Todos aparentam estar convencidos que a panaceia para
os males de nosso tempo é o esclarecimento (Alfklärung) pelas luzes da lei. Mas, o que quero lembrar
é que não é apenas a escuridão que cega. Se por um lado o projeto desse reitor
biônico é nos separar por ruas escuras, por outro, a polícia tem a pretensão de
nos cegar com as luzes de uma lei imposta. A universidade que Rodas busca
construir é então um lugar dominado pela cegueira branca, onde todos somos
embalados em um sono dogmático e compartilhamos apenas do medo de acordar.
Assembléia no Vão Livre da História e Geografia - USP
Ivan de Sampaio
Gostaria ainda de
colocar aqui alguns outros links sobre o tema